Publicado em julho 7, 2012



O cadáver insepulto da política praticada em Guarujá permanece como pasto aos abutres carniceiros das ‘benesses do poder’, centrados no crescente orçamento público colocado à disposição da sanha patrimonialista que se centraliza na administração da gorda receita de cerca de R$ 1 bilhão de reais/ano.
A Política – uma invenção grega, ante o despotes, aquele que dispunha privadamente do poder, e que permeou pendularmente na construção da civilização ocidental -, em Guarujá, já agonizava com o caudilhismo sutil de duas décadas do governo personalizado em Maurici Mariano e, moribunda, sofreu mais uma síncope quando, em 2003, Nelson Fernandez – megaempresário e capitalista até a medula – na ânsia e esteira do populismo de Lulinha ‘paz e amor’ migrou aos quadros do PT, para a disputa eleitoral de 2004. Não sem arranhões, diga-se, aos ‘últimos dos moicanos’ que defenderam uma bandeira da esquerda petista que, há muito, havia se esgarçado, e desde então permaneceu a meio mastro já prevendo a proximidade de sua morte – da Política.
As alternativas políticas ao eleitor-cidadão-contribuinte foram se afunilando e o estereótipo de uma classe que se enriquece fácil e rapidamente se tornou o padrão e o modelo, a regra e a regência, como uma ideologia travestida da Política.
Durante a caótica e denunciada gestão Farid Madi, PDT, finalmente a morte tão anunciada da Política, e tendo novamente como coadjuvante o PT de Nelson Fernandes: mesmo após o cair de ‘escamas dos olhos’ de todos perante a realidade efetiva daquilo que se passava, antes à boca miúda, nos bastidores das ‘práticas políticas’ – o qualificativo aqui não identifica a substância – com a compra literal de apoio político de vereadores da Câmara pelo big boss, daquilo que o próprio Ministério Público qualificou como formação de quadrilha, o PT subiu ao Altar do Oportunismo sobre um cadáver, formando uma das mais alianças – PT e PDT locais – mais catastróficas e vergonhosas dos últimos tempos.
As mentes petistas, já empoeiradas, que deflagraram a tese daquela aliança não perceberam, e não poderiam perceber – por mero embotamento intelectual -, que na circunstância do escândalo estava a antítese: ao invés de contribuir para a morte política como fez, deixou vazar por seus dedos a chance de aglutinar do limbo os setores da sociedade civil, sem vez e voz, em torno de um momento de ruptura e oposição. Mas as falsas expectativas, o pragmatismo carreirista e o fisiologismo falaram mais alto e ditaram os parâmetros. Até mesmo um ex-vereador do PT como Zé Pedro, de reputação e honestidade inatacáveis, caiu na ilusão do ‘canto da sereia’.
Maria Antonieta alçou vôo, descolada do PT, num ‘bravo e heróico’ não à aliança PDT-PT, formando expectativas em torno de um certa ruptura, com alguns dos nódulos estruturais que constituem o campo político, ainda que de limitado alcance.
Mas o pior estava por vir: ainda durante aquela gestão 2005/2008, foi aquela mesma Maria Antonieta que com seu categórico ‘não’, que tripudiou sobre a carne putrefata da política e, alavancada por uma certa densidade de votos no mercado eleitoral, caiu como um luva nas mãos do PMDB, capitaneado por nada menos do que pelo núcleo Mariano.
A alternativa evaporou.
Acabara-se o dissenso, o espaço público de deliberação e debates para a alocação de valores, o contraponto, a alternativa, a antítese: tudo de dissolveu no privado, no particular, no patrimonialismo, no oportunismo deslavado e descarado.
Antonieta venceu o pleito de 2008. O governo PDT/PT com Farid/Nelson Fernandes foi rejeitado nas urnas e por um motivo muito simples, apesar de seu complexo de Narciso: foi uma administração bastante ruim, desqualificada.
Deu no que deu: nos bastidores, a estrutura subjacente à política permaneceu idêntica e o ‘criptogoverno’, como denomina Bobbio, continuou a ditar suas regras e, mais uma vez, assistíamos a um governo de ‘faz-de-conta’, sem credibilidade e sem brilho, e que conseguiu a façanha e o mérito de ressuscitar, não a Política, mas o próprio Farid Madi (muito mais como um eco, uma ressonância transmitida através do vácuo da política que vivenciamos, do que uma real alternativa).
Em 2012, dos escombros o que sobrou foi a uma aparência de Política, agora reduzida essencialmente ao imediatismo eleitoral com lastro no cálculo do coeficiente eleitoral-partidário, como centralidade das articulações, e é isso. O resto é favor, fisiologismo, cobrança de fatura.
Não é difícil encontrar candidatos que passaram todo o período com uma etiquete de preços pendurada ao pescoço.
E isso é tudo o que restou: disputa de fração pela hegemonia no campo político, formado pela prática, pelo habitus do fisiologismo, do clientelismo e, sobretudo, do patrimonialismo. Oh,quantas regras difíceis de compreender que faz doer a cabeça!!!
Até aqui, estamos no campo político, e o real e o efetivo se descortinam quando passamos à estrutura que comanda a ‘coisa toda’, ao criptogoverno, às Elites retrógradas financiadoras de milionárias campanhas que, posteriormente, e aqui fazemos o link, vão figurar como altos contratantes com o Poder Público exatamente como espoliadores do orçamento público, e que deixam suas não parcas ‘migalhas’ nos corredores do poder.
Quando, por exemplo, temos a introdução das empresas da Máfia da Merenda em Guarujá, por Farid Madi e, mesmo após o TCU julgar que a licitação apresentou diversas irregularidades, e alertar a atual Prefeita sobre as ocorrências, ainda assim Maria Antonieta prorrogara por quatro vezes os contratos, em mais de R$ 17 milhões: a conclusão, de uma lógica aristotélica, é do continuísmo governamental, na forma e na matéria.
As alternativas, portanto, Farid (PDT), Maria Antonieta (PMDB), PT (agora com Sidney Aranha – que vai a reboque num discurso ‘PT com a cara do Brasil’ (que Brasil, a do Congresso de Demóstenes e Cachoeira ou daquele do ‘Mensalão’ do PT?), demagógico enquanto sobre as mesmas transferências de recursos da União ao Município, reivindicadas pelo PMDB) e Nelson Fernandes (PTB), simplesmente não existem, são vazias, fogo fátuo ao eleitor, pois não há diferenças essenciais entre estes grupos que disputam o campo: a política está morta.
Colocadas primeiramente estas Alternativas que foram nem nunca terem sido, como se apresentam as demais possibilidades eleitorais, ou seja, é possível o resgate, a ressurreição ou, ao menos puxar os sinais vitais da Política em Guarujá?
SEM SAÍDA
Talvez com uma ou duas exceções, todos os demais candidatos que se prontificam ao cargo de Prefeito estão em relação umbilical com o que está aí, com o dado, como algozes da indiferença da política vivenciada singularmente em Guarujá.  
Já colocadas algumas noções da estruturação PMDB, PDT (agora com o vereador valter Suman a tiracolo), PT e PTB, o caminho por este longo inverno por que passamos ainda carece de alguns passos, mais exploratórios do que aprofundadores da situação, que demandaria abrir vários campos, das políticas públicas aplicadas de forma similar nestes oito anos, a equivalência de gestão fiscal, bem como as matrizes das denúncias quase igualmente constituídas, não fosse o show do ‘mensalinho’ insuperável, quase comparável apenas ao trágico execução e assassinato em público do ex-secretário de governo de Maria Antonieta, até agora sem solução.
AFINIDADES ELETIVAS
Começando com o PSB, que atualmente ocupa a Secretaria do Estado de Turismo e que inverte somas consideráveis no município, conferindo visibilidade pré-eleitoral ao governo do PMDB, intenciona alcançar a Prefeitura com José Ribamar (que beira um diletantismo unicamente direcionado ao mimetismo das práticas correntes, alavancado muito mais por seu capital financeiro do que seu excepcional carisma de comunicador), que ocupou uma Secretaria Municipal no último governo daquele mesmo PDT e cuja esposa foi assessora parlamentar da Deputada Haifa Madi. Absolutamente não representa qualquer alternativa.
Um PSDB, que disputa o cargo de vice-prefeito com Tucunduva Neto, também vinculado ao anterior governo do PDT, cuja maior lembrança é lambança da tomada a forceps da Prefeitura por alguns dias (comédia pastelão, onde a ação judicial para que o então vice-prefeito Tucunduva assumisse o cargo de Prefeito foi  ajuizada pelo atual candidato do PT, Sidney Aranha), coligado ao PR, que lança um candidato ao cargo de Prefeito, Valdir Tamburus, condenado ao pagamento de R$ 42.000.000,00 (quarenta e cinco milhões de reais) por atos de Improbidade Administrativa e que esteve, umbicalmente, cacifado pelo então prefeito Maurici Mariano, antecessor do grupo que conduziu o atual PMDB ao Poder.
Ou mesmo um PSOL, partido de esquerda, com Gentil da Silva Nunes, que também se vinculou ao governo passado do PDT e o PP, com Rubinho, candidato a Prefeito, carregando como vice um acusado da prática de ‘mensalinho’, Honorato Tardelli Filho.
Sobra na área apenas um partido de menor expressão, PMN, sob a pretensão eleitoral de Airton Sinto ao cargo de Prefeito.
A LANTERNA DA PROA
As alternativas são limitadíssimas: seja um PDT com Farid Madi, seja uma PMDB com Maria Antonieta, serão mais 04 anos ou até mesmo oito, de descaso e péssimos governos patrimonialistas, que serão dirigidos pela máquina burocrática dentro de uma prática do arroz-com-feijão, porque um ou outro, serão governos onde a política continuará insepulta, e então teremos já 16 anos jogados na latrina de história, quase uma geração inteira.
Os demais candidatos, quase em sua totalidade, e suas afinidades eletivas conduzem aos mesmos prognósticos.
Parafraseando Dante, ‘vós que votais nestas eleições em Guarujá, perdei todas as esperanças’.