Esgoto ameaça as praias do Guarujá
Em cerca de 10 quilômetros de praias da cidade, encontram-se pelo menos 40 saídas clandestinas para o mar
Rejane Lima, GUARUJÁ
A falta de um destino mais adequado às galerias de água pluvial somada a ligações clandestinas de esgoto trazem prejuízos mais que visíveis a moradores e turistas do Guarujá. E malcheirosos também. Em cerca de dez quilômetros de praias do município, há pelo menos 40 saídas de esgoto para o mar. Existem 21 na Enseada e mais 5 na Praia das Astúrias, que só tem um quilômetro de extensão - algumas de água barrenta retirada das construções de novos residenciais.
A reportagem do Estado percorreu as praias do município. Com mau cheiro, vários caminhos d’água espantam banhistas e recebem críticas dos comerciantes.
Ronaldo Ramos Faustino, proprietário do Guaruça Bar, na Praia do Tombo, afirma que o problema piora nos fins de semana e na alta temporada. “A população cresce e a demanda é muito grande, fica um cheiro insuportável, podre, de água vencida.
Parece óleo, esgoto, parece tudo”, observa, citando a poça de água escura que se forma bem na frente do seu bar, no Canto do Forte dos Andradas.
PROBLEMA DE DÉCADAS Segundo ele, a fossa prejudica o movimento do seu estabelecimento e dos outros no entorno. “A Prefeitura já notificou a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), mas até agora não teve resultado. Eu nasci na Praia do Tombo e tem isso aí, brincando, há 30 anos.
Muito tempo atrás, houve moradores que tentaram tampar, colocar cimento, mas daí volta nas ruas de cima”, explica. O advogado Carlos Toledo Piza, de 57 anos, informou que, desde que ele e a família chegaram à cidade para o feriado do réveillon, tem observado até fezes saindo de um cano clandestino na Praia das Astúrias.
Soraya Barbosa Montes, de 47 anos, comerciante de Tatuí, também reclama do mau cheiro e conta que visita Guarujá há anos, mas quase nunca entra no mar. “Fico caminhando na praia e, quando entro na água, procuro ir longe de onde cai esse esgoto.”
Essa é justamente a recomendação da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), segundo a bióloga Débora Orgler.
Já sobre pisar ou não nessa água, ela é menos incisiva. “Não é que vai pisar e ficar doente. Se engolir a água, pode ou não causar uma doença.
Mas eu não piso e acho que, se pisar, lavar o pé depois é sempre bom.” Débora diz que a maioria das galerias é contaminada e pode tornar o mar impróprio para banho.“Quando é uma baía, a circulação de água é menor.”
De acordo com ela, a cidade não tem nenhuma praia considerada excelente o ano inteiro. No entanto, essa avaliação difere da que mede a balneabilidade semanalmente, por meio da quantidade da bactéria enterococcus constante nas amostras.
Pitangueiras e Astúrias, por exemplo, foram consideradas impróprias para banho na coleta de uma única semana.
Já Tombo e Enseada, por outro lado, obtiveram a bandeira verde durante o ano passado inteiro.
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